segunda-feira, julho 25, 2011

Guimarães2012 - uma história viva


Quando 2012 terminar, o que permanecerá em Guimarães para lá do efémero título de Capital Europeia da Cultura ostentado em 2012, juntamente com Maribor? Poderá este magnífico projecto concretizar-se com uma organização de costas voltadas para a Universidade do Minho e até para a cidade e a região? Qual irá ser a ideia mestra? Qual o fio condutor, a proposta, a imagem que deve perdurar de Guimarães2012 na memória dos visitantes e participantes das “muitas e desvairadas” iniciativas a realizar?


Será que a proposta inicial Guimarães2012, que obteve aprovação internacional, se concretiza no programa de iniciativas que se vai esboçando? E será que cada iniciativa - qual pincelada numa tela – vai compor com as restantes um quadro compreensível, com algum sentido?
Estas são algumas das questões com que o cidadão comum se inquieta, à rápida aproximação de 2012. E, no entanto, a Capital da Cultura tem andado nas bocas do mundo por outras e menos construtivas razões. Primeiro, foi o escândalo dos vencimentos da Fundação Cidade de Guimarães. Mais recentemente, a ruptura com a Câmara Municipal. Uma coisa é certa: este projecto não deve falhar. Não deve nem pode falhar por 3 boas razões: por Guimarães, por Portugal, pela Europa. E ainda por uma quarta – pela Cultura, raiz de futuro.
Nos últimos anos, a cultura tem vindo a tornar-se uma actividade profissional/industrial quase exclusiva de círculos fechados “bem-pensantes”, de lóbis capazes de manter um controlo mais ou menos eficaz, embora discreto, dos circuitos de acesso a subsídios públicos, à exposição mediática e, deste modo, ao “grande público” - redundando tudo na “degeneração da arte ocidental” de que já Miguel de Unamuno falava. Na sua génese - e princípio permanente - a Cultura é depósito de vida em Comunidade. Subsiste em cada Homem. Pode Guimarães2012 contribuir para devolver este sentido original à palavra Cultura, à identidade europeia?
Tanto a crise do euro como a recente tragédia na ilha norueguesa de Utoyea nos falam, afinal, da crise da ideia de Europa. Poderá Guimarães2012 dar algum contributo para reavivar o sentido original da Europa, integrando harmoniosamente a sua matriz medieval cristã com o espírito do renascimento que permitiu o espectacular movimento de abertura desta ao mundo - movimento que Portugal iniciou a partir do seu berço vimaranense?

Por via do fado ou da agência Moody's, os ânimos lusos andam acabrunhados. Não será esta Guimarães2012 capaz de reavivar o impulso vital que aqui um dia nos deu o ser como povo? Povo, pátria ou língua portuguesa que sejamos – o mesmo para Fernando Pessoa - «falta cumprir-se Portugal».

Guimarães2012 é uma grande oportunidade, talvez única. Saibamos dar as mãos com uma Fundação refundada, reconquistando a cidade e a região envolvente, envolvendo e estimulando transcendência nas entidades já activas “no terreno”, dando de Guimarães uma imagem de qualidade internacional.
Igual mas distinto da Expo'98, porque não um espectáculo diário de encerramento, fundindo a “Mensagem” de Pessoa n'“O Bobo” de Herculano* junto aos muros do Castelo de Guimarães? Quem não se lembra do espectáculo “O Bobo” encenado pela “Oficina teatro” em 2001 por ocasião do 3º Congresso Histórico de Guimarães?

Um "pós-2012" é possível: português e europeu... mas com espírito de Guimarães.