sábado, junho 21, 2008

fragilidade do Estado

Diz o primeiro-ministro, Sócrates, que sentiu a fragilidade do Estado perante a manifestação de força dos camionistas... Não se percebe. Onde esta fragilidade está mais patente e há muito tempo é noutras coisas:
  • - nos manuais escolares, encontra-se cada vez mais publicidade encapotada a marcas para "educar" desde cedo as crianças e jovens para a dependência do consumo... sem o Estado com vontade ou força para representar o interesse de pais e educadores, diante da força do... mercado
  • - nos privilégios de que goza o sector bancário e financeiro, diante do resto da economia produtiva do país; como quem se faz cobrar de favores e créditos concedidos em períodos eleitorais; como quem tem a classe política "na mão";
  • - na incapacidade do Estado português para resistir ao mínimo capricho de Bruxelas, por mais idiota que seja - desde logo a sanha higienizadora e normalizadora
  • - na incapacidade (e falta de vontade) para atacar e inverter a actual situação de gravíssimo "inverno demográfico".

sexta-feira, junho 20, 2008

Portugal perdeu?

ou... a selecção portuguesa de futebol perdeu? Ou em clima mais aldeão "os nossos rapazes lá perderam"? Também não subscrevo que uma campanha futebolística se transforme em "grande desígnio nacional" - subscrevo inteiramente o "sexo dos anjos" citando o blogue 1bsk.

Mas saúdo o relatador que (no rádio ou na televisão) se saiu com esta: "Portugal perdeu, ou por outra, a selecção portuguesa perdeu...". Ainda há esperança! Já é um progresso, embora também se possa (mal)dizer que "enquanto ganhávamos, era Portugal que ganhava. Na hora de perder, foram os jogadores e o treinador... ou ,mais especificamente, o Ronaldo que não rendeu, o Scolari que não preparou, o Ricardo que não estava lá"...

Sim, parece-me que Portugal perdeu... mas não ontem! Tem vindo a perder a Paz de espírito, a tranquilidade de consciência e um certo "estar-de-bem-consigo" que nos vinha ajudando a transcender-nos nos últimos anos, muito fruto de um sentimento de grande união nacional (salvo seja). Por que razão, não se viram desta vez tantas bandeiras nas janelas? Por que não se respirava um ar de tanto optimismo como das passadas duas vezes?

Pode-se alegar que, em 2004, o campeonato era cá e o enorme esforço do país na organização tinha o seu escape naquele mês dos jogos... Certo. Mas em 2006 não foi cá... e também o entusiasmo foi bastante maior que agora, parece-me. Que aconteceu então? Será que a situação económica está muito pior do que então? César das Neves em artigo recente chama a atenção para alguns indicadores que desmentem uma degradação real e generalizada da economia portuguesa, apesar de um evidente "afundamento" da classe média.

Que foi então? "Perdermos" Durão Barroso para a comissão europeia? A organização da "America's cup" para Espanha? Perdermos o Jorge Costa, o Luís Figo e o Rui Costa para a selecção nacional ou os Madredeus e o Eugénio de Andrade para a cultura nacional? Ganharmos o Deco e o Pepe mas perdermos a Maria João Pires para o Brasil? (com notória vantagem para eles...)

Portugal vive estes dias, este último ano, como a selecção parece jogar: de consciência pesada, com a angústia e intranquilidade de quem anda de mal com a Vida, de mal consigo mesmo. E quem assim anda, não consegue... o que empreende, as pequenas ou grandes coisas que se propõe realizar competindo com outros. Pode-se dizer que há países e povos que conseguem render quase o mesmo nessas condições. É verdade para outros, mas não para nós. Nós somos aqueles aos quais "o fraco Rei, faz fraca a forte gente".

Nós somos aqueles cujo "Rei" - desde 2005 - o que quer para Portugal é um país cada vez mais envelhecido, com menos crianças, com menos "famílias tradicionais" a empatar-lhes os planos "progressistas" de mais e mais abortos, mais e mais laicismo de Estado, mais e mais divórcio simplex, casamentos homo, menos padres nos hospitais, menos religião, menos santos e nenhuns crucifixos na escola pública, menos "moral" nos currículos. E quando toda a sanha do poder está em retirar a moral ao povo, não é surpresa que este... desmoralize!

Desde há um ano que Portugal vive uma situação de surda "guerra civil", como a de 1832, com portugueses a matar portugueses... covardemente nas clínicas do aborto e até nos hospitais públicos. Desde há um ano que o Estado porfia em atacar a consciência ética dos médicos e enfermeiros, pressionando de forma inaceitável os códigos deontológicos das respectivas ordens profissionais. Desde há um ano que a palavra "imposto" tem uma componente de sangue que Portugal não experimentava dolorosamente na sua consciência ensanguentada, desde a guerra colonial. Hoje pagamos impostos - sem alternativa possível - sabendo que esse dinheiro é usado para liquidar irmãos nossos de dez semanas, se calhar até de mais... Para liquidar o nosso futuro, portanto.

E querem que nos unamos em torno da selecção, se alguém nos pôs já - e da forma mais violenta - "portugueses contra portugueses"? Querem que na euforia duma campanha futebolista, entretanto interrompida sem glória e sem grande brilho, esqueçamos a campanha de mentiras que nos impingiram para fazer passar a outra "interrupção", que não é interrupção nenhuma? E se dessem a referendar aos portugueses uma "interrupção das participações nos campeonatos de futebol" que... significasse afinal não participar em mais nenhum? Mas não, no futebol a interrupção do "sonho português" de ontem significa uma nova oportunidade já em Setembro, com o arranque da qualificação para o "mundial". Nos referendos à "vida humana", pelo contrário, todos os eufemismos são permitidos - e uma "interrupção" ou até um "tratamento voluntário da gravidez" (como anunciam impunemente as páginas de alguns jornais sem Valores) significa "acabou-se", "morreu", "tudo está consumado".

Mais profundamente do que a "crise dos combustíveis" ou o "afundamento da classe média", é esta "guerra civil" que está a matar Portugal, a esvaziar-lhe as creches e infantários por todo o lado e a encher-lhe a selecção e os "quadros de pessoal" de (benvinda) gente nascida em outras terras... e de que precisamos por conscientemente deixarmos secar a nossa terra e saquear o nosso mar.

Mas se tanto mal nos pode chegar pela porta mal-guardada dum "fraco Rei", anime-nos essoutra esperança de que por um "forte Rei" o nobre povo se possa reencontrar consigo mesmo, nação valente e imortal(?). A "nova Águia" tem-se feito voz dessa promessa renovada em silêncio à mesa das casas portuguesas durante os sessenta anos dos Filipes ou "a catástrofe" com Junot. A promessa de que, qual Tigre da Malásia...
... Portugal não morreu. Portugal não morrerá!

quinta-feira, junho 19, 2008

Congresso PSD, crise social, Irlanda e Velada proVida, RCP 19.06

  • Congresso PSD em Guimarães: interesse moderado... no tempo dos congressos electivos a emotividade era outra; embora à custa do poder real do militante...

  • Vale a pena reflectir sobre esta análise de João César das Neves: «A VERGONHA DA AUTÊNTICA CRISE SOCIAL - [...] a crise que sofremos é bastante mais subtil e complexa do que as abordagens comuns asseguram. Existem muitos sinais, não de um agravamento do fundo da escala social, mas de sérias dificuldades nos extractos imediatamente acima. A nossa crise social está na classe média. Uma parte importante da população portuguesa, que tinha algumas posses e muitas ambições, acreditou nos discursos que os governantes andam a produzir há dez anos. Apostou na educação, comprou casa e carro, endividou-se ao banco. Depois veio o desemprego, doença, trabalho precário, prestações crescentes. Em vez de subir, caiu em grandes dificuldades. Normalmente ainda tem património, a casa hipotecada, carro velho, mas não sabe o que porá no prato esta noite. É uma pobreza envergonhada, desiludida, revoltada. Este é o verdadeiro rosto da nossa crise social.
    As políticas contra a pobreza não vão aliviar as dificuldades. Como os responsáveis, que criaram a situação, ainda não a perceberam, conceberão medidas complexas, mas ao lado dos sofrimentos. Alvoroçados, não pelo problema, mas pelo ataque político, proporão programas que calem os críticos, sem resolver o drama.

  • Os Irlandeses disseram não - Porreiro, pá! À recorrente tentativa de manipular resultados, interpretando intenções, recorrerão agora tentando que o referendo se repita. DoPortugalProfundo sagt: «O federalismo político europeu não tem viabilidade popular: deve manter-se a Europa das Nações com união económica e monetária. União económica e monetária, sim; união política, não. Sem directório político das grandes potências e com a liberdade dos povos. »

  • Extraordinário que, apesar de 80 a 90 da representação parlamentar irlandesa, ser favorável ao sim... nas urnas este teve pouco mais de 46%. Também lá o mesmo fosse entre representantes e representados; o que nos vale é uma sociedade civil consciente, crítica, informada, e forte;

  • Uma prova de que por cá a sociedade civil também se mexe e está atenta é a “Velada pela Vida” de 25 de Junho pelas 21h30 frente ao Hospital de N.S. Da Oliveira em Guimarães. Afinal parece que nem todos se esqueceram de que o aborto faz vítimas – os bebés e as mães, e a sociedade e o Estado têm de encontrar outras respostas – que não o aborto - para as dificuldades reais sentidas pelas mães, pelas famílias.

segunda-feira, junho 16, 2008

As razões do Não irlandês

1. Os eleitores irlandeses consideram que o tratado de Lisboa é praticamente ilegível [...];

2. Os irlandeses não gostam da ideia de perder o controlo sobre a sua soberania, a sua economia, os seus valores culturais. Também não gostam de pensar que alguém lhes irá impor políticas sobre temas particularmente sensíveis como sejam a eutanásia ou o aborto;

3. Os cidadãos da Irlanda têm os mesmos receiso que os restantes europeus: inflacção, taxas de juro altas, combustível a preços elevados, desemprego. Alguns temem que este (o desemprego) aumente se o IRC para as empresas estrangeiras aumentar e elas mudarem de país.

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Alguns criticam o fim anunciado da tratado de Lisboa, "apenas" pelo voto de um país em 27. Mas o certo é que os irlandeses "falaram" por muitos cidadãos europeus que, em outros países se viram privados da palavra a dizer que, como em Portugal, inclusive lhes fora prometida na última campanha eleitoral...

Daí que hoje, na Europa, muitos de nós se sintam um pouco irlandeses também!

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Alguns destaques do DN de 14 de Junho de 2008, pág.s 2 e 3

Não - 53,4%

Sòcrates assume derrota pessoal. «Porreiro, pá!»

Mr. No - Declan Ganley, lider do Libertas

sexta-feira, junho 13, 2008

Não

... disse a Irlanda! Como alguém dizia... "porreiro pá"!

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Agora... será desta que os líderes europeus começam a contar com os cidadãos para uma construção europeia bottom-up, e para a subsidiariedade enfim?

quinta-feira, junho 12, 2008

Irlanda, combustíveis, Velada pela Vida, RCP 12.06

  • O caso recente do bebé que “ressuscitou” (vd. Blogue portugalprovida) ou o caso de morte cerebral que recuperou para uma vida normal impõem-nos uma revisão dos critérios médico-legais da Vida. Talvez a questão utilitarista (e por vezes monetarista) do transplante de órgãos deva ceder lugar ao primado do Direito à Vida do doador... antes de o ser. É que em tudo isto exerce uma obscura mas poderosa pressão o factor económico. Levantou-se essa questão aquando do assassinato da religiosa que em Moçambique mais activamente denunciava os “caçadores de órgãos” a soldo de grandes clínicas europeias e americanas... O que mudou?

  • a “Velada pela Vida” de 25 de Junho pelas 21h30 frente ao Hospital de N.S. Da Oliveira em Guimarães. Afinal parece que nem todos se esqueceram de que o aborto faz vítimas – os bebés e as mães, e a sociedade e o Estado têm de encontrar outras respostas – que não o aborto - para as dificuldades reais sentidas pelas mães, pelas famílias.

  • Crise dos combustíveis: estamos a entrar no "cada um por si"... camionistas, pescadores o que reivindicam é isenções e atenções... para si. Cada um tenta desenrascar-se como pode, salvar-se a si e deixar o “regime geral” pagar a crise. Antes pintavam-se os muros a exigir aos ricos que pagassem a crise... Agora, sem sujar os muros (e nesse sentido vamos melhor), exige-se isso mesmo ao contribuinte... Então e os professores, escolas de condução, advogados, vendedores ambulantes, pequenos distribuidores, comerciantes, tantos e tantos profissionais que também dependem dos transportes para trabalhar? Também vão ter ISP reduzido? Ou há moralidade ou "comem" todos... Também pode acontecer que estes (seguramente a imensa maioria) optem por acatar serenamente o que o governo decida agora e... prefiram manifestar-se mais tarde no momento das eleições! Vamos mal quando, em vez de enfrentarmos juntos as dificuldades entramos no “cada um por si” - e já começámos há algum tempo: O “cada um por si” de algumas mães que abortam os filhos como quem bebe um copo de água (algumas já vão no terceiro e quarto aborto legal – e a lei ainda mal fez um ano...; o “cada um por si” dos políticos que reclamam para si privilégios e reformas escandalosas; o “cada um por si” das grandes superfícies que à volta secam o comércio tradicional; o “cada um por si” dos sindicatos dos que têm emprego e esquecem que certas exigências que fazem são pão para os seus e fome para os outros (para os desempregados) – para quando os sindicatos de desempregados? Já há o FERVE para os “recibos verdes”. Pode ser um começo, quando este se sentar à mesa da concertação social...

  • Os Irlandeses estão neste mesmo dia a referendar o Tratado de Lisboa. A sociedade está dividida sobre o tema. Registamos o quase silêncio da imprensa portuguesa sobre o assunto até hoje e perguntamo-nos se tal será inocente. É bom ver que em pelo menos um país os políticos não se atreveram a passar por cima dos cidadãos, prescindindo de os atender como aconteceu em Portugal. Interessante será acompanhar o que sucederá se o povo irlandês vier, escandalosamente, a contrariar a expectativa e a pressão de Bruxelas. Se o princípio democrático vale de facto alguma coisa, também seria interessante analisar a que ponto a comissão europeia se manteve perfeitamente neutra e isenta neste processo. Instâncias que volta e meio multam os governos se calhar também mereciam às vezes que lhes aplicassem multas. Depois de um longo processo de formação de opinião, parece que os irlandeses inicialmente inclinados para aprovar o tratado (como aqui já referimos) agora pendem para o NÃO. Se tal se confirmar (e amanhã o saberemos) essa será a melhor lição que os cidadãos algumas vez deram ao directório de Bruxelas, que mesmo depois do não da França e Holanda à primeira forma do tratado (constituição europeia), insistem em pôr as coisas segundo os seus termos e não segundo os termos dos cidadãos. Uma honra para Portugal onde vive o herdeiro da dinastia real irlandesa – os O'Neill que à cultura portuguesa deram já um grande poeta, Alexandre O'Neill, e ironicamente o famoso poema do “Cherne”, a cuja sombra se cunhou a alcunha do actual senhor Europa. Senhores da Europa, façam o favor de seguir o verdadeiro Cherne, o Cherne de O'Neill e recordem os Princípios - Participação, Subsidiariedade, Verdade e, já agora, Humildade.

segunda-feira, junho 09, 2008

Estado de Direito ou... Direito à Indignação?

«Portugal é um Estado de Direito» assegurava hoje o Ministro do Interior. (hoje está na moda recuperar as designações do Estado Novo, seguindo o refrescante exemplo do Sr. Presidente da República) Mas exactamente desde quando é que o é? Certamente depois do buzinão e bloqueio da ponte Salazar, digo 25 de Abril, em 1995 por camionistas-da-raça-d'antanho com a participação de destacados líderes do PS.

Senão como se compreenderia que o Sr. Ministro do governo PS, Dr. Rui Pereira, justificasse a ordem para a utilização da força contra os camionistas-da-raça-d'hoje?

E todos os que então teorizaram sobre o direito-á-indignação, calam-se hoje? Porque será? Não será por o governo hoje ser do PS, pois isso seria sectarismo. Então só pode ser por - talvez - o Estado de Direito para os camionistas-da-raça-d'hoje não tutelar com o mesmo... Direito os camionistas-da-raça-d'antanho.

E se há aqui subtilezas do Direito que urge tirar a limpo, então não será demais consagrar a este problema o dia de amanhã e chamar-lhe justamente o Dia da Raça: o dia de glorificação da valente Raça dos camionistas de antanho e de hoje que veio substituir os capitães na vanguarda do descontentamento do povo. Ontem contra o próprio Cavaco - hoje contra Sócrates. Toda a gente percebeu o sentido em que o Sr. Presidente recorreu ao termo "raça", menos o B.E. - o qual, sendo da oportunista raça política que é - da oportunista raça política Bê É - não perde a ocasião para tentar explorar o que julgou tratar-se de uma gaffe. Nem o S.O.S. racismo levou para esse malévolo sentido a evasiva do Sr. Presidente. Mas compreende-se que escapem aos trotzquistas do B.E. as subtilezas e finas ironias com que o Sr. Presidente procurar dar um ar de graça à cinzenta política portuguesa. Um ar de graça... estratégica, certamente. Passada a fase da "cooperação estratégica", impunha-se ensaiar um novo conceito para o segundo mandato. E parece que já começa a esboçar-se uma linha...
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Mas regressemos aos nossos heróis do dia - os camionistas que resolveram deixar de se mostrar... simpáticos. Se já os camionistas-d'antanho não foram pecos*, os de hoje não lhes ficam atrás, ao vencerem, além do medo do papão-socrático, o clima de passividade que o poder supunha garantido pelo momento futebolístico. Com a selecção em prova na Suíça, e o governo a ameaçar com todo o peso da Lei e do Estado de Direito, é qualquer coisa de épico haver ainda alguém que lhes responda: "o Estado de Direito - se quiser sê-lo - que mostre o seu temível poder... baixando o preço dos combustíveis".


* português d'antanho

Eleição do «Mais Velho» - 2008

*repost da Nova Águia*

«Nem é tarde nem é cedo!» pensei, ao deparar com mais um post sobre a CPLP na Nova Águia. E aqui estou a pôr em palavras uma ideia que ignoro se outros a tiveram ou até escreveram já - não seria a primeira vez que mais do que uma pessoa agarrava e tomava por sua uma dessas "ideias que pairam" e pertencem ao mundo, neste caso ao Quinto Império. E chega de falar da ideia - mais convém que ela fale de si.

Olá comunidade de pensadores de língua portuguesa
Olá movimento internacional lusófono
Oi a todos e, por todos, olá Nova Águia

Já nos temos cruzado e acenado nos altos céus que são os nossos, né? Eu sou a ideia de uma "comunidade de povos de língua portuguesa", sou a ideia de uma comunidade de povos, de uma comunidade de muitas e desvairadas gentes e, a meu modo, de um certo Império do Espírito Santo. Voo muito e muito alto. Por vezes tento poisar numa e outra terra. Tem sido mais difícil que pousar numa por outra alma... ou pena.

Ao contrário de ti, que do ninho onde nasceste levantaste o olhar e abriste asas para voar, eu do alto onde me criaram, vivo para pousar onde me recebam. Daí que uma das últimas formas que assumi para me verem os humanos foi esta de CPLP - Comunidade de Povos de Língua Portuguesa. A CPLP - Comunidade de Países que aí criaram já me vai abrindo pistas. Mas, para muitos corações lusos, coisas «de Países» são coisas de políticos. E os povos, ao contrário dos países, em vez de assentarem num princípio territorial de fronteiras divisórias, polarizam-se em torno de uma cultura e Valores identitários - que depois podem ser partilhados sem deixar de ser próprios.

É para aí que aponta meu voo. Aponta para o dia em que, na terra dos Homens, os PLPs (povos) - com ou sem os seus países e políticos - formem a sua comunidade com o cimento de uma consciência partilhada tão forte como a dos "brancosos" de certo «Ensaio sobre a Lucidez». E elejam anualmente o seu "Mais velho" cuja única atribuição será a de levar por toda a parte a minha Mensagem, o meu Espírito. Como fazer isso? Para começar pode-se fazer uma votação virtual. Logo nos centros do Movimento Internacional Lusófono espalhados pelo mundo, podem os cidadãos manifestar por escrito a sua escolha. Qualquer grupo poderá propor personalidades dos cinco continentes. E quando fazer essa escolha? Porque não começar a votação no dia 10 de Junho, o dia da morte - ou talvez não - do grande Camões?!...

E porque não pensar-se que, de futuro, o presidente da CPLP possa vir a ser eleito directamente pelos cidadãos?... Quanta revolução nesse simples acto.

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nota: «mais velho» é um adjectivo, com base num uso tradicional, hoje usado em Angola para qualificar pessoa de autoridade moral e sabedoria, credora do respeito de todos.