segunda-feira, junho 09, 2008

Estado de Direito ou... Direito à Indignação?

«Portugal é um Estado de Direito» assegurava hoje o Ministro do Interior. (hoje está na moda recuperar as designações do Estado Novo, seguindo o refrescante exemplo do Sr. Presidente da República) Mas exactamente desde quando é que o é? Certamente depois do buzinão e bloqueio da ponte Salazar, digo 25 de Abril, em 1995 por camionistas-da-raça-d'antanho com a participação de destacados líderes do PS.

Senão como se compreenderia que o Sr. Ministro do governo PS, Dr. Rui Pereira, justificasse a ordem para a utilização da força contra os camionistas-da-raça-d'hoje?

E todos os que então teorizaram sobre o direito-á-indignação, calam-se hoje? Porque será? Não será por o governo hoje ser do PS, pois isso seria sectarismo. Então só pode ser por - talvez - o Estado de Direito para os camionistas-da-raça-d'hoje não tutelar com o mesmo... Direito os camionistas-da-raça-d'antanho.

E se há aqui subtilezas do Direito que urge tirar a limpo, então não será demais consagrar a este problema o dia de amanhã e chamar-lhe justamente o Dia da Raça: o dia de glorificação da valente Raça dos camionistas de antanho e de hoje que veio substituir os capitães na vanguarda do descontentamento do povo. Ontem contra o próprio Cavaco - hoje contra Sócrates. Toda a gente percebeu o sentido em que o Sr. Presidente recorreu ao termo "raça", menos o B.E. - o qual, sendo da oportunista raça política que é - da oportunista raça política Bê É - não perde a ocasião para tentar explorar o que julgou tratar-se de uma gaffe. Nem o S.O.S. racismo levou para esse malévolo sentido a evasiva do Sr. Presidente. Mas compreende-se que escapem aos trotzquistas do B.E. as subtilezas e finas ironias com que o Sr. Presidente procurar dar um ar de graça à cinzenta política portuguesa. Um ar de graça... estratégica, certamente. Passada a fase da "cooperação estratégica", impunha-se ensaiar um novo conceito para o segundo mandato. E parece que já começa a esboçar-se uma linha...
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Mas regressemos aos nossos heróis do dia - os camionistas que resolveram deixar de se mostrar... simpáticos. Se já os camionistas-d'antanho não foram pecos*, os de hoje não lhes ficam atrás, ao vencerem, além do medo do papão-socrático, o clima de passividade que o poder supunha garantido pelo momento futebolístico. Com a selecção em prova na Suíça, e o governo a ameaçar com todo o peso da Lei e do Estado de Direito, é qualquer coisa de épico haver ainda alguém que lhes responda: "o Estado de Direito - se quiser sê-lo - que mostre o seu temível poder... baixando o preço dos combustíveis".


* português d'antanho

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