Senhor D. Januário Torgal Ferreira,
Se o dever de um bispo é «falar de tudo»* o senhor perdeu agora uma
oportunidade tão boa de estar calado quanto de falar foram muitas e boas
as que, durante o consulado do Partido Socialista de Sócrates e - pelos
vistos - seu, deliberadamente perdeu. Se entende a sua missão de Bispo
como dever de intercessão pelos «mais frágeis»* porque não falou contra
Sócrates. o sanguinário, que tentou e conseguiu esmagar precisamente os
mais frágeis de todos com a sua iníqua lei do aborto? Não, o senhor não
actua como um verdadeiro Bispo católico unido a Roma. Um "Episcopo", em
obediência ao mandamento de Cristo "Vigiai!", olha em todas as
direcções e adverte para os males que se aproximam, venham eles de onde
vierem. O Senhor, pela maneira como há anos se posiciona, das duas uma:
ou só tem olhos e ouvidos para o que lhe vem da direita - e é um mau
vigilante - ou então vê e ouve à direita e à esquerda... mas cala-se
selectivamente. Nesse caso, abusa gravemente da paciência e benevolência
do povo cristão em nome do qual, querendo ou não, fala ou cala. Nós,
cristãos, compreendemos que certos Bispos prefiram falar por palavras e
outros por gestos; que uns se sintam mais à vontade no areópago e outros
diante do Crucifixo. O que não podemos aceitar é que alguém prostitua a
dignidade episcopal, a missão profética que lhe foi confiada...
colocando-a não ao serviço do Evangelho ou da própria consciência, como
pretende fazer crer, mas de agendas e solidariedades políticas de que um
Bispo se deve manter livre.
Com franqueza e desgosto lhe digo aqui publicamente e direi pessoalmente
se vier a ter o desprazer de o encontrar - não o procurarei, descanse! -
que o considero mau Bispo e mau Militar, ao aventurar-se de forma tão
desajuizada no terreno do comentário político. Estou à vontade
relativamente ao actual governo cujos ministros tenho publicamente
criticado por escrito de forma, penso eu, fundamentada. Mas se para o
Senhor Bispo o anterior governo era de anjos, comparados com os
"diabinhos negros" do actual, o Senhor D. Januário só pode estar fora da
comunhão com o Papa Bento XVI para quem “os seres humanos mais pobres
[ou frágeis] são as crianças ainda não nascidas”**, ou seja os tais
seres cuja total total exploração, desconsideração e morte
violentíssima, perante o seu silêncio e, por vezes, até com a ajuda da
sua palavra cúmplice***, o PS de Sócrates promoveu.
Dito isto, termino com a única consequência positiva que se pode salvar
de mais esta intempestiva intervenção sua. Eis que, à vista de todos,
caiem por terra as desculpas de alguns Senhores Padres e Bispos que,
hesitantes quanto a colaborar com a causa da Vida, a apodam de
"política" e passam de largo sentenciando que "a religião não se mistura
com a política". (Como se não conhecêssemos a Bíblia, como se nunca
tivéssemos lido Jeremias...) O seu mérito involuntário, D. Januário, foi
o de ter demonstrado à saciedade e até que ponto, sem complexos, a
missão do homem Religioso pode - e porventura deve -
levá-lo a atravessar áridos territórios da "política", na defesa da
Justiça, da Verdade e da Vida. Com o filósofo, pode o religioso também
dizer «nada do que é humano me é estranho». Se no resto o não posso
louvar, nisto o louvarei esperando que o exemplo encoraje os grandes
homens (e mulheres) que também temos na Igreja portuguesa e na
Comunicação católica a tomar uma posição cada vez mais clara e
desassombrada pro referendo Vida, a favor da Causa da Vida cujo Senhor
prometeram servir.
Luís Botelho
Guimarães, 19 de Julho de 2012
* http://economico.sapo.pt/noticias/o-que-chateia-esta-gente-e-saber-que-alguem-da-igreja-fala_148572.html
** discurso do Papa Bento XVI aos membros do corpo diplomático, 8 de Janeiro de 2009
*** http://casadesarto.blogspot.pt/2004/09/d-janurio-torgal-ferreira-e-o-barco-do.html
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