segunda-feira, setembro 24, 2007
Naufrágio do «Luz do Sameiro»
«Como a Marinha os deixou à sorte - A Marinha de Guerra conhecia desde as 06h42 a zona onde naufragara o pesqueiro ‘Luz do Sameiro’ – mas uma investigação do CM demonstra que só perto das 8h30 chamou os meios de socorro, que chegaram tarde. Só um tripulante foi salvo. Morreram seis pescadores»
Eis a síntese do Correio da Manhã para os trágicos factos ocorridos há menos de um ano numa praia do (far)-oeste português.
"Como a Marinha os deixou à morte!" apetece dizer. Como o governo português nos deixa a todos expostos à morte, quando assim desgoverna
Foi a 29 de Dezembro de 2006 na praia da Légua - e o governo lá se explicou no parlamento, como de costume. Seis pescadores mortos - nenhuma responsabilidade política.
Foi assim em 4 de Março de 2001 - sessenta paivenses desaparecidos com a queda de uma ponte esquecida pelo governo (sem a intervenção reclamada pelos técnicos 15 anos antes em 1986) e em linha com uma barragem "desgovernada" (Torrão): nenhum governante no banco dos réus!
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Agora o armador, depois de ter perdido o próprio filho e o barco num mar cuja navegabilidade o governo afinal não garante, vê-se a braços com a intimação para desembolsar 20.000 euros necessários à remoção do barco da praia, com a indemnização que ainda não teve por recusar um "corte" de 125 mil euros...
Estão identificados muitos locais ao logo das costas portuguesas onde se acumulam restos de redes. O que espera o governo para proceder à limpeza desses locais que põem em risco a vida de pescadores, navegadores e veraneantes? Ou pelo menos, que os sinalize com bóias de aviso - era o mínimo que se exigia!
De políticos capazes de pôr um ar bem compungido perante os "acidentes" que a sua incúria permite, estamos "bem" servidos - já o sabemos. Agora precisávamos mesmo de governantes responsáveis e consequentes, preparados para fazer o seu "trabalho de casa" ou de gabinete - longe das câmaras de televisão mas... realmente "a bem da nação".
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No sábado passado, finalmente...
( Não, não começaram a limpar o mar das redes, não deram à Justiça as condições para funcionar em tempo útil, nem resolveram qualquer dos problemas de segurança que estiveram na origem da tragédia do "Luz do Sameiro" - que para isso não têm vistas amplas nem a razão iluminada pela luz do Sameiro de Braga, de Santa Luzia de Viana do Castelo ou por todos os faróis juntos da costa portuguesa...)
...sentindo que é preciso tranquilizar o povo - e que é muito mais barato montar um "show" aparatoso de vez em quando do que tratar efectivamente dos problemas - lá estava a RTP (sempre solícita a transmitir as mensagens que interessam ao poder e sossegam o povo) a mostrar urbi et orbi (que é como quem diz, "às Caxinas e ao mundo") como o sistema de busca e salvamento está... salvo! A ideia era realizar uma simulação dum naufrágio com posterior busca e salvamento da tripulação sinistrada. A ideia era, com isso, mostrar ao povo como é rápida a evolução tecnológica e digna de pasmo a inovação organizacional nos nossos dias; perguntando com Eça "quem não admirará os progressos do nosso século (XIX)?", digo, do séc. XXI. Mas deixemos em paz o bom velho Eça de Queirós que não vem aqui ao caso senão de raspão por a coisa de dar na Póvoa. A ideia era, pois, demonstrar como é afinal já hoje possível salvar tripulações ali a 100m da costa, quando tal parecia "impossível" há tão pouco tempo... em 29 de Dezembro de 2006!
Sendo uma iniciativa duma associação de jovens pescadores (naturalmente preocupada com as condições de segurança no seu "local de trabalho"), lá estavam "todos" os do costume: polícia marítima, GNR, polícia municipal, bombeiros, camera-men! A uma distância muito próxima da costa (para que as viúvas das Caxinas vissem bem como o estado português se organiza para seu sossego futuro), funcionou tudo aquilo que os pescadores têm de ter sempre pronto para as inspecções - os sinais de fumo, os very-lights, a balsa de salvamento, os coletes salva-vidas, as pagaias de emergência, enfim toda a palamenta da praxe - mais o sangue frio e a paciência para esperar pelos meios aéreos que, uma vez mais, não vieram!
Sim, se o objectivo era mostrar como funciona o dispositivo de busca e salvamento... então este foi atingido. Na praia, a polícia marítima colocava umas belas fitas de demarcação da área de socorro... para conter os curiosos que afinal já estavam bem "contidos" lá mais acima na marginal.
No mar, a corveta de guerra (certamente chamada muito antes, dada a sua baixa velocidade de cruzeiro) lá andava a rondar a distância conveniente, fosse pelo seu grande "calado", fosse para não correr riscos e emaranhar as hélices em alguma rede perdida... Certo é que conseguiu dissuadir com êxito qualquer veleidade de a Al Quaeda aproveitar o ajuntamento para lançar um atentado a partir do mar. Neste ponto, a missão da marinha pode-se considerar um êxito total. E os "náufragos" da simulação de encalhamento lá parece que acabaram por ser salvos... por outra embarcação de pesca (pelo menos assim não pareceu de cá de longe). É assim, ò pescadores. Hoje, como no tempo de D. Fernando I, ou vos assistis mutuamente ou não espereis do actual estado euro-português muito mais do que subsídios ao abate de vossos navios.
E o helicóptero, cuja chegada triunfal e redentora os alti-falantes anunciavam "às Caxinas e ao mundo", quando já esperávamos o ritmo cavo das heli-pás - substituto moderno do "toque de carga" do quinto de cavalaria nos westerns do cinema americano - eis que... o helicóptero afinal não veio*. Ficámos todos de cara à banda, à espera de Godot... Talvez fosse mesmo o momento certo para as nossas oposições "para-lamentares" formularem uma proposta de rebaptizar os nossos fieis EH101 com os mais apropriados nomes de Godot1, Godot2, etc.
Enfim, lemos na imprensa do dia seguinte que se encontrava desaparecido um surfista numa praia na região de Espinho, um pouco a sul. Esperamos que a falta do helicóptero se devesse a esta razão - e mais ainda desejaríamos que as suas buscas fossem ali coroadas de êxito. Se foi este o caso - e supomos que sim - é claro que aplaudimos a justa hierarquização das prioridades: primeiro o modo-socorro, só depois o modo-"demo".
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* soubemos mais tarde que acabou por chegar às 11h30, a hora para a qual estaria supostamente marcado o "acidente". Porém, o altifalante ia pelas caxineiras ruas convocando o público para as 9h30. Com pequenos atrasos, as coisas terão começado um pouco depois. Da margem foram visíveis diversas fases das operações entre as 10h00 e as 10h30. Admitindo que o "alarme" fosse dado às 10h15, ainda assim esperou-se cerca de uma hora e um quarto.
** Ouvimos entretanto que não só as buscas não foram infelizmente bem sucedidas mas que não terão envolvido meios aéreos - mas esta é uma informação sem confirmação. A confirmar-se, então nem aquela justificação que acima adiantámos se sustentaria. Conviria então saber-se a que distância os meios de socorro aéreo se encontram das Caxinas, para se perceber se um tal tempo de socorro se justifica: Caso contrário, seríamos levados a pensar que o dispositivo operacional de busca e salvamento leva tão a sério os exercícios de simulação de situações de emergência que... os conduz na estrita observância das mais rigorosas normas de descoordenação das comunicações de que dá mostras quando o "caso é a sério" (como se verificou no recente caso "Luz do Sameiro") .
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já agora...
Há anos, um barco da Póvoa de Varzim, ali perto, foi atingido por um foguete da festa da Assunção e ardeu completamente como se mostra na imagem . Ao que sabemos, continua por se fazer justiça, com a comissão de festas, a câmara municipal e... o tribunal sem darem a solução que o caso reclama e o desespero do proprietário já merece. Do poveiro retiramos com a devida vénia a imagem da revolta do cidadão: "museu das festas..."
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