quarta-feira, junho 02, 2010

D. José Policarpo critica Cavaco no casamento 'gay'

D. José Policarpo critica Cavaco no casamento 'gay'

Aos microfones da Renascença, D. José Policarpo criticou a decisão de Cavaco no casamento homossexual, afirmando que «à luz da sua identidade cultural de católico, [..] precisava de marcar uma posição também pessoal». Parece-nos que, em devido tempo e por maioria de razão, teria sido justo criticar publicamente os grandes responsáveis desta iniciativa legislativa do governo: o ministro Pedro Silva Pereira e o primeiro-ministro.

Ao primeiro-ministro (PM), talvez tivesse sido mais aconselhável que o próprio D. José Policarpo, de visita ao Palácio de S. Bento em Outubro último, não desse as garantias de que a Igreja não provocaria uma "guerra santa" por esta questão. Que fiel tem sido à palavra dada a José Sócrates!

Ao ministro Pedro Silva Pereira, que
em Janeiro, no parlamento, ao lado do PM "assumiu a paternidade" da proposta de lei, apesar de católico com envolvimento activo em movimentos pastorais (pastoral da juventude e/ou cursos de preparação para o matrimónio - CPM - na Diocese de Lisboa), D. José Policarpo também poderia ter questionado publicamente a sua «identidade cultural de católico», como fez com Cavaco Silva que "apenas" a promulgou. Se o casamento homossexual é tão contrário à doutrina da Igreja e dá entrada no nosso ordenamento jurídico exactamente pela mão de um antigo dirigente católico da Diocese de Lisboa, o seu Bispo não dá nem pede explicações sobre isso?

Terá afinal a igreja de Lisboa perdido a sua independência face ao poder político, contando com o seu apoio à construção da nova Igreja e Centro Pastoral de S. Francisco Xavier, em Lisboa? E chegando a tomar como arquitecto o publico e notório maçon - Arq. Troufa Real? Terá sido nestas andanças que D. Carlos Azevedo, bispo auxiliar de Lisboa, chegou à fala com o "sub-mundo" da maçonaria, concluindo nada mais lhe encontrar de significativamente condenável do que o "secretismo"? (cf. declarações televisivas que cito de memória)

Será que, perante tudo isto, D. José Policarpo tem ainda autoridade moral para censurar Cavaco Silva?...

Unidos ao Papa, pedimos conversão e purificação para a Igreja portuguesa, para todos nós.

Luís Botelho Ribeiro

5 comentários:

Luís Botelho Ribeiro disse...

Link para debate no 'facebook':
http://www.facebook.com/photo.php?pid=970638&id=1662109405#!

Luís Botelho Ribeiro disse...

(a pedido do autor, publico este detalhado comentário.
LBR)

Exmo Senhor

Peço desculpa de lhe responder para o correio electrónico, mas o texto que publicou chegou-me numa mensagem reenviada e não tinha interesse em registar-me no seu Blog. 

Penso que vale a pena reflectir com factos e datas sobre o assunto da alteração do Código Civil em Portugal, permitindo o casamento homossexual em Portugal, pois o seu post trazia insinuações provocatórias, talvez menos atinentes aos factos públicos que não levantam dúvidas. Talvez isso ajude a reconsiderar a questão, embora ache que o tom revela no momento alguma dificuldade em saber situar-se no campo onde importa não só o debate, mas também a acção.

A primeira coisa que gostava de salientar é que os nossos Bispos de facto se pronunciaram sobre o projecto entregue na Assembleia logo em 12 de Novembro de 2009. O comunicado final da Assembleia Plenária é muito claro: 

9. Havendo projectos para legalizar as uniões entre pessoas homossexuais concedendo lhe o estatuto de casamento, os Bispos portugueses manifestam pública rejeição a que este tipo de uniões possa ser equiparado à família estavelmente formada através do casamento entre um homem e uma mulher. Tal constituiria uma alteração grave das bases antropológicas da família e com ela da própria sociedade. Todo o respeito é devido a todas as pessoas, também às pessoas homossexuais, mas este respeito e compreensão não podem reverter na desestruturação da célula base da sociedade, que é a família baseada no verdadeiro casamento." cf. http://www.agencia.ecclesia.pt/cgi-bin/noticia.pl?id=76095

A Nota Pastoral de 23 de Abril de 2009, relativa às última eleições já visava que a escolha dos partidos tinha critérios claros, e parece-me apenas não indicar as siglas partidárias em que seria incompatível o voto dos cristãos, tendo em conta quais foram as grandes bandeiras eleitorais dos partidos nas últimas eleições: 
Critérios e valores a respeitar e promover 

4. Em todas as eleições, como na acção política normal, o critério fundamental deve ser a pessoa humana concreta, servida e respeitada na sua dignidade e direitos. Assim poderá satisfazer também os seus deveres. É este respeito e cuidado que permite realizar a humanização da sociedade. 
Ninguém deve esperar que um programa político seja uma espécie de catecismo do seu credo, mas um modo de compromisso para a solução dos problemas do país. Neste sentido, enumeramos alguns critérios que consideramos importantes para escolher quem possa melhor contribuir para a dignificação da pessoa e a realização do bem comum: 
– promoção dos Direitos Humanos; 
– defesa e protecção da instituição familiar, fundada na complementaridade homem mulher; 
– respeito incondicional pela vida humana em todas as suas etapas e a protecção dos mais débeis; 
– procura de solução para as situações sociais mais graves: direito ao trabalho, protecção dos desempregados, futuro dos jovens, igualdade de direitos e melhor acesso aos mesmos por parte das zonas mais depauperadas do interior, segurança das pessoas e bens, situação dos imigrantes e das minorias; 
– combate à corrupção, ao inquinamento de pessoas e ambientes, por via de alguma comunicação social; 
– atenção às carências no campo da saúde e ao exercício da justiça; 
– respeito pelo princípio da subsidiariedade e apreço pela iniciativa pessoal e privada e pelo trabalho das instituições emanadas da sociedade civil, nomeadamente quando actuam no campo da educação e da solidariedade… 

(continua)

Luís Botelho Ribeiro disse...

(parte 2)

O eleitor cristão não pode trair a sua consciência no acto de votar. Os valores morais radicados na fé não podem separar se da vida familiar, social e política, mas devem encarnar se em todas as dimensões da vida humana. As opções políticas dos católicos devem ser tomadas de harmonia com os valores do Evangelho, sendo coerentes com a sua fé vivida na comunidade da Igreja, tanto quando elegem como quando são eleitos.

Note que o Conselho de Ministros só aprovou a proposta em 17 de Dezembro de 2009, ou seja, um mês depois do comunicado da CEP de Novembro, e 9 meses depois do comunicado sobre as eleições.

As insinuações do silêncio do Patriarca de Lisboa feitas pela CS foram claramente negadas pelo nosso Bispo em 22 de Dezembro de 2009, reiterando pública e claramente a sua oposição ao projecto de alteração do Código Civil para o casamento de pessoas do mesmo sexo.

O Parlamento aprovou as alterações à Lei em 8 de Janeiro de 2010.

A primeira acção pública de massa de um "movimento de cidadãos" contra o casamento homossexual foi em 20 de Fevereiro de 2010, mais de um mês após a votação no Parlamento, e  apenas em Lisboa ,  num sábado à tarde , dia em que o impacto na CS é menor, e não visava certamente o Parlamento que estava encerrado, mas provavelmente, apenas o veto político do Presidente da República.

Em 17 de Maio de 2010 Cavaco Silva promulga as alterações ao Código Civil, mesmo expressando a sua resistência pessoal, dizendo querer evitar uma crise política.

Este calendário ajuda-me a perceber que a matéria em discussão não é tem a ver com a clareza com que os nossos Bispos tomaram posição antes das eleições, no momento em que a questão começou no Conselho de Ministros, a sua ida ao Parlamento e votação, e a final promulgação pelo Presidente. A sequência das datas mostra é que, de facto, a sociedade civil não acolheu a tempo a necessidade de criar debate e acção concertada nesse propósito. E nisto, não culpemos os Bispos que mais claros não podiam ser, a não ser que preferíssemos que dissessem em que partido deveríamos votar.

A comunicação do Patriarca a propósito da posição expressa por Cavaco Silva deve ser entendida no contexto em que o pragmatismo político põe em causa valores fundamentais da pessoa humana. Bem sei que o quadro da próxima eleição presidencial é delicado, mas um Bispo não pode calar a sua missão de que os políticos não podem perverter uma escala de valores em função do pragmatismo em tempos de crise. Não é favorável ao Cavaco Silva? Pena, mas não é missão dos Bispos apoiar soluções que mais não são do que consertos em pano velho, mas sim, chamar "profeticamente" a atenção ao Presidente e a toda a sociedade civil de que os valores fundamentais da pessoa humana obrigam a todos, e em todas as circunstâncias.

Luís Botelho Ribeiro disse...

(parte 3)

Por fim, o tom… Há quem queira ressuscitar as velhas polémicas da intervenção directa da Igreja na luta política, não da Igreja Povo de Deus, mas da Hierarquia. Infelizmente temos uma história dramática do que isso significou nos finais da Monarquia e início da República, e quanto a Igreja perdeu de oportunidade nesses tempos. Temos tido actualmente muito boa doutrina sobre a participação e contributo da Igreja à sociedade laica, e o Papa Bento XVI é um exemplo claro de alguém que no-lo veio recordar. Pedir aos Bispos que se "sujem" no quadro político apenas favorece a ideia da solidão da Igreja nas grandes questões sociais. A falta de mobilização dos leigos no quadro político, a fraca capacidade de serem "fazedores de opinião pública", a pouca participação naquilo que são as expressões mínimas daquilo em que se acredita, tudo me faz pensar que escolhemos agora os culpados para justificar a nossa indiferença social em relação ao mundo em que vivemos. Os Bispos são também responsáveis pela liberdade da Igreja, são interlocutores deste processo onde o Estado procura retirar a nossa autonomia em celebrar a fé, exercer a acção solidária, em testemunhar a sabedoria na escola. Não é para não perder "benesses" ou privilégios que eles não se envolvem em lutas políticas. É porque a sua missão na Igreja é ensinar, estimular na caridade, confortar na Missão. É por essa razão que a Santa Sé suspende um Padre ou um Bispo que se queira fazer Deputado, Autarca, ou qualquer ou papel público semelhante. A missão de um pastor não é de combate político, mas de ensino, santificação e promoção pastoral na caridade.

Voltemos à questão da clareza e da oportunidade. Se me perguntarem: "Os Bispos disseram claramente que o projecto do casamento homossexual é contrário à razão e à fé?", respondo: "Sim". Se me perguntaram, "…mesmo com o Governo e Parlamento que temos, voltaram ao assunto quando o caminho parecia irreversível?", respondo: "Sim". "Com a situação consumada e a ideia de algum "pacto", esclareceram a situação?", mais uma vez respondo que sim. Mas se me perguntarem se a sociedade civil, o laicado católico, os grupos se manifestaram em massa, em tempo oportuno, de forma coerente e concertada , a minha resposta é: "Não". Se me perguntarem: "A lição de que a coerência entre os valores que se professam e a acção política encontrou eco como ensino autêntico nos corações dos fiéis que vivem estes tempos?" A minha resposta, depois de ler esse tal artigo do blog fica com muitas dúvidas que tenhamos aprendido a lição.

Luís Botelho Ribeiro disse...

(parte 4)

O que me parece é que os nossos cristãos já não sabem de que Reino são. Jesus referindo o poder destrutivo do mal recorda que "um Reino divido destrói-se a si mesmo". Há quem pareça não perceber que a lógica da Igreja não é no combate contra si mesma, no desespero de encontrar culpados para aliviar a nossa (ir)responsabilidade colectiva. Aos Bispos eu peço um ensino claro e inequívoco, o estímulo da caridade na Missão, a oração para que a força do Espírito não abandone as suas comunidades. Aos leigos peço coragem na Missão, e a certeza de que a Igreja não os abandona. Mas também que não peçam dos seus pastores aquilo que, para serem fiéis à sua missão, não lhes podem dar. Recentemente o Papa em Fátima recordou aos Bispos essa necessidade de formar e estimular para a Missão, não que os Bispos substituíssem os leigos no seu campo próprio de acção.

Perdoe-me, mais uma vez, se tomo a liberdade de roubar o seu tempo, mas deve calcular por fim que a obra da Igreja no Restelo é promovida pela "Fábrica da Igreja Paroquial de São Francisco Xavier", entidade canónica autónoma, responsável de pedir o alvará de construção, pagar a construção e licenciamento de utilização da obra. O Bispo Diocesano, quando nomeia o Pároco (o que aconteceu já ha alguns anos, no caso concreto), dá-lhe autonomia para gestão da Fábrica da Igreja Paroquial, e só por um processo judicial (canónico) o pode remover do ofício eclesiástico. Não é isso que está em causa, mas não minimize que o encargo da construção não é do Patriarca, mas dos cristãos do Restelo que há muitos anos alimentam o sonho da construção de um Templo com todo o esforço e generosidade. É discutível se a obra é bela, mas penso que numa sociedade democrática não será difícil aceitar que as comunidades se organizem para construírem os lugares de culto, aceitando o risco do seu pagamento integral, numa época em que o o Despacho nº 7186/2003 torna quase impossível contar com o apoio financeiro do Estado para o equipamento religioso pelo conjunto de quesitos que são feitos. Acho que, a audácia de uma comunidade em começar uma construção daquelas dimensões em tempos de crise económica e sem certezas de apoios financeiros tem, pelo menos, um nome: coragem. Posso discutir o aspecto exterior, são critérios estéticos distintos, mas pelo menos devo respeitar a sua confiança no futuro.

Subscrevo-me cordialmente, pensando poder ajudar com estes dados a considerar melhor o que pode ajudar a nossa sociedade a descobrir caminhos mais fiéis aos valores que acredito serem para todos.

Robson Cruz