Liverpool, capital europeia da cultura em 2008, já estava a vender bilhetes para os eventos a 7 de Setembro de 20071. Cá por Guimarães e já em Dezembro ainda não foi sequer apresentado o programa das actividades. Já disseram que seria em Outubro2... Dizem-nos agora que é já a seguir... Não obstante, respondendo a uma proposta - entre outras - de encenação diária de “o Bobo” no Castelo de Guimarães, já em 26 de Outubro eu próprio recebia um “não” porque, supostamente, a programação estava encerrada!!! Mas demora tanto tempo o anúncio público de uma programação já “encerrada”? Ou só estava, afinal, meio encerrada como certas “sentenças por apontamento” que mesmo depois de lidas... ainda não podem ser fotocopiadas para conhecimento das partes (vd. caso “casa Pia”)...
Todos recordamos que se atribuiu a “atrasos” e “incompetências” destas a substituição da anterior Administração da Fundação e a criação de uma Direcção Executiva. Convém, por isso, que, ao apresentar o programa, alguém responsável explique também estes atrasos. Não será sério abusar das “costas largas” e “lei da rolha” aplicada à anterior presidente, atribuindo-lhe os atrasos do último meio ano.
Por isso é tempo de questionar o director executivo, Dr. Carlos Martins, que há meio ano centraliza os circuitos de decisão executiva e tem, por isso, todas as condições para apresentar melhor serviço. Porque não há desde Setembro um programa de eventos e bilhetes à venda, como em Liverpool? Podemos saber que salário o senhor aufere? E com o serviço três meses atrasado, podemos perguntar o que faz para o merecer? Está a tempo inteiro na Fundação ou passa por Guimarães quando lhe permitem as suas absorventes “indústrias criativas”? Há cerca de um ano, levantava-se na blogosfera3 a questão da transparência e separação entre interesses particulares (pessoais ou empresariais) e interesse público. Ainda é cedo para um balanço mas ele há-de ser feito. Por ora, convém manter vigilância atenta.
Há alguns dias, vendo passar o maestro Rui Massena numa “bomba automóvel” (na música, afinal, vive-se bem!), ocorreu-me pensar se a nova Orquestra Fundação Estúdio estará financeiramente estruturada para sobreviver a Dezembro de 2012 ou se, chegados lá, logo se vê... A brincar, a brincar, consta que já voaram dois ou três milhões de euros - certamente para adquirir instrumentos, guarda-roupa e serviços especializados como o de “pianista de acompanhamento” - auferindo quase 10.000€ em 19 dias4 - 500€ por dia, numa região que ganha 500€/mês! Uma orquestra de debutantes mais dispendiosa que a orquestra consagrada já existente: a Orquestra do Norte, entre cujos admiradores me conto. Somos afinal um país rico?
Guimarães-2012 não pode ser uma “oportunidade perdida” ou adiada. Ainda acredito que o projecto CEC2012 há-de redundar no êxito colectivo que a cidade e o país merecem. Mas tal só é possível, se os decisores tiverem os pés na terra, respeitarem os fundos públicos postos à sua disposição e se focarem num projecto construído a pensar nas pessoas, no potencial turístico e cultural da região, no interesse nacional, no pós-2012. Alguns, porém, parecem menos interessados em Guimarães que nas suas “indústrias (lu)criativas”. Para outros/outras, lançados na corrida à sucessão, o único pós-2012 que parece interessar resume-se às eleições autárquicas5 de 2013... Valha-nos a Senhora da Oliveira.
Luís Botelho
notas:
1http://www.liverpool08.com/archive/index.asp?tcmuri=tcm:79-102481&y=07&m=Sep
2http://videos.sapo.pt/ffMFtyrQAoTcszsiV3Gp
3http://araduca.blogspot.com/2010/10/cec2012-e-comunicacao-uma-reflexao-que.html
4http://www.base.gov.pt/_layouts/ccp/AjusteDirecto/Detail.aspx?idAjusteDirecto=266754&lk=srch
5http://www.rtp.pt/noticias/?t=Guimaraes-quer-ser-a-cidade-europeia-do-desporto-em-2013.rtp&headline=20&visual=9&article=506073&tm=8
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