terça-feira, março 25, 2008

resposta ao Editorial e Tema de capa da edição de 19.03.08 da "sábado"

Ex.mº Sr. Director,

Quem, como eu, tiver adquirido o número da sábado de 19.03 pode ter sido tomado pelo mesmo sentimento de desolação perante os textos anunciados por títulos tão sonoros:
"O PSD que está à direita de Gengis Khan"
"Os negócios milionários da Igreja em Portugal"

Atentemos no primeiro. Desconhecendo se Gengis Khan era um incorrigível reaccionário de direita ou um "progressista" revolucionário de esquerda, certo é que o título parecia sugerir uma ala "skin-head" discretamente infiltrada no PSD. E afinal o editorialista da sábado - nada mais nada menos que "a Direcção" - nada mais tinha para apresentar que o novo(?) caderno de propostas sociais e, em particular, de políticas a favor da família. Em vez de remeter para o "pensamento político" de um remoto Gengis Khan, teria sido mais interessante apontar alguns paralelos(?) com propostas de um movimento emergente - o Portugal pró-Vida. Desde o compromisso com a revogação da Lei do Aborto, à proposta de fim das quotas para os filiados... vários elementos poderiam demonstrar como o PSD está a tentar resolver o seu problema de falta de propostas concretas (discutido há semanas na imprensa, perante apelos da liderança ao partido-que-pensa). Podia inclusivé estabelecer-se um paralelo com o que, à esquerda, se passou em certas fases da vida do PS e BE. Ao concluir, finalmente, que "este PSD quer trazer de volta o Portugal do séc. XIX", a Sábado pode até ter dado um contributo maior para a instabilidade da comunidade educativa portuguesa do que o famoso video YouTube da aluna do telemóvel confiscado. Como? Deixando a pairar no ar a ideia de que talvez Gengis Khan, suposta figura de referência do ultraconservadorismo... de que, por sua vez, o PSD supostamente estaria próximo, fosse uma figura do séc. XIX. Não hão-de ter faltado leitores a consultar o oráculo da Wikipedia sobre esse terrível chefe Mongol...

Em relação ao segundo artigo, a decepção foi quase total. Quando o país discute como vão ser investidos 6.000 milhões de euros no seu novo aeroporto e talvez mais no TGV a Sàbado, prestigiada revista de actualidade, consagra oito páginas a discutir verbas que, comparadas com aquelas, são "peanuts". E se bem que não resistisse a comentar algum nervosismo que este tipo de investigação naturalmente causa, não lhe ficaria mal registar o bom exemplo para a classe política dado por quem, com uma mensalidade de 200 a 300 euros, pode gerir com probidade um investimento de 5 milhões. Há poucos anos, um célebre autarca socialista dizia ser quase impossível pedir a um político que gerisse tantos milhões, com um vencimento tão "baixo" como... vinte vezes o do pobre ecónomo dos salesianos!

Luís Botelho Ribeiro

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