quarta-feira, abril 16, 2008

grades, sinos e tachos...

Depois de aqui publicarmos um alerta para alguns "pontos negros" nas nossas estradas, verificámos que alguém tomou uma iniciativa de cariz mais... tradicional. E assinalou a falta da grade num certo "buraco frente à Quinta da... Tapada" com a bandeira que a imagem mostra.

Alguém leu o nosso post? Pouco provável, perante a rusticidade da solução adoptada. O nosso leitor habitual é do mais fino que há!





Certo é que o problema foi entretanto resolvido! Só não sabemos se o foi pelo nosso alerta blogosférico, pelo acto de "cidadania directa" ou... pelo normal funcionamento da manutenção do sistema rodoviário.

A nova grade lá colocada, porém, é de um modelo "meio-tosco" como se quem a lá colocou já estivesse farto de comprar grades da Fundicion Catalá para depois alguém roubar.





E este problema dos frequentes furtos de tampas de saneamento e outros elementos em ferro dispostos na via pública, evoca uma história já antiga cujos "herois" são uns certos objectos trabalhados em ferro ou bronze: sinos e... tachos.

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Trata-se da famosa história da "comission des cloches*" belga. Instituída para localizar centenas de sinos alegadamente retirados pelos Nazis das igrejas belgas durante a 2ª Guerra Mundial, aquela patusca comissão "funcionou" durante dezenas de anos para, enfim, não encontrar praticamente nada...


A razão é simples e, certamente, não terá escapado de todo a quem, apesar disso, achou por bem criar a tal comissão!

... Na fase final da guerra, as matérias primas começaram a escassear e os Nazis precisaram de encontrar fornecedores "alternativos". Em países ocupados, como a Bélgica, lembraram-se então de "requisitar" os sinos dos campanários, como quem os leva para "manutenção"...

(Que os sinos - com o passar dos anos - podem oxidar e o toque vai perdendo brilho...)





Algumas cordas, roldanas e uma camioneta de carga bastavam para o "serviço". Bom, não propriamente: as cordas, as roldanas, a camioneta e... o medo!













... É que, ao contrário dos "filmes de guerra", nas fotografias da realidade não aparecem soldados SS com os famosos capacetes M35. Populações submetidas à lei marcial não costumam organizar manifestações de protesto... nem que lhes venham roubar os sinos da igreja. É verdade que, com a perda dos sinos, ficava igualmente limitada a capacidade de convocar a população...
... a rebate! Mas não iríamos muito por aí...







Por fim, ia tudo para a fundição e eis como, querendo ou não, centenas de vilas e aldeias belgas colaboraram com o "esforço de guerra".









Depois de todo aquele bronze muito bem (con)fundido, convenientemente transformado em canhões, tanques, aviões e navios, certamente não seria nada fácil o trabalho da tal "commissin des cloches". Alguns daqueles sinos, podem muito bem estar no fundo do mar... com o Bismarck!

Mas mesmo assim diz-se que o "trabalho de comissão" foi sendo job para uns tantos boys das clientelas políticas belgas... e ainda hoje a história se conta por lá como o exemplo mais acabado do que é um... "tacho".

Lá como cá!...


* vd. Th. Boudart, Les archives de la Commission des cloches.
Fotos de trabalhos nas "minas" de ferro e bronze Nazis -
Enlèvement des cloches, 1942-1944.

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