quinta-feira, abril 03, 2008

Clube de Análise, 3.04.2008

A partir de hoje será publicado aqui o texto de cada intervenção semanal na Rádio Clube do Minho - 92.9MHz - no âmbito da rubrica "clube de análise", no ar todas as 5ªs feiras por volta das 14h45.


(sendo esta a primeira edição, justifica-se uma "declaração de interesses" em sinal de transparência editorial e respeito pelo ouvinte)

Declaração de interesses

  • projectos de sociedade civil: candidatura P.R.2006, FOCA – desenvolvimento sustentável, agenda XXI / metas do milénio; campanha «centros de saúde proVida», Portugal pro Vida, movimento político em formação que visa levar o Estado a adoptar políticas favoráveis à vida, nas várias vertentes (aborto, saúde, justiça, emprego, cultura);

  • docente de Engenharia na Universidade do Minho (dept. de electrónica) vindo há dez anos da Universidade de Aveiro, responsável projecto SAVI que produziu o midichat (programa de música on-line pela internet, especialmente para pessoas com deficiência visual ou motora) e elaborou um «manual do professor da escola inclusiva - com alunos cegos ou de baixa visão na sala de aula», projecto Vigília que produziu, na fase empresarial, um sistema de detecção electrónica de incêndios florestais – e prossegue na U.M. Enquanto projecto de disseminação tecnológica e estímulo a parcerias locais “Vigília Open Design»;

  • activamente envolvido no passado recente no movimento Minho com Vida – pelo “não” à liberalização do aborto e outros crimes de Estado contra a sociedade portuguesa;

  • cidadaniapt.blogspot.com, portugalprovida.blogspot.com, luisbotelhoribeiro@gmail.com

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Tantos assuntos a pedir a nossa atenção: situação no Tibete, propostas na A.R. De alteração à lei do divórcio, processo de reforma do ensino superior (depois de Bolonha é o RJIES) – particularmente discutido e assumido na U.M., braço de ferro dos professores do secundário com o Ministério, situação do emprego/emigração e a (não) discussão sobre o modelo de desenvolvimento para o Minho e para o país, a preparação da 1ª Conferência Internacional Angola: Ensino, Investigação e Desenvolvimento (EIDAO 08), Universidade do Minho, Campus de Gualtar, Braga, entre terça-feira, 15-04-2008 e quinta-feira, 17-04-2008. Mas temos de seleccionar assuntos, grandes ou pequenos, para a nossa reflexão. Para hoje escolhi três: o semáforo de Esporões, um tópico relativo aos MDGs e... a educação;

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"O "semáforo de Esporões" em Braga, a segurança, o ambiente...

Como tantos outros por este país fora, o que pretendia ser um limitador de velocidade ou um dispositivo de protecção aos peões, acaba por se tornar um simples desperdiçador de combustível:
- torna-se vermelho mesmo que o veículo circule a 50 km/h;
- demora uma "eternidade" a regressar ao estado "verde".

Estudos indicam que é no "pára-arranca" que mais se desperdiça combustível. Então, se não para proporcionar alguma poupança aos condutores portugueses, ao menos por respeito para com o ambiente haja alguém que se encarregue de verificar a (des)calibração dos semáforos limitadores de velocidade de forma a garantir que, não havendo peões a solicitar o atravessamento, um condutor que siga à velocidade permitida não encontre o semáforo fechado.

Uma outra razão ainda. Durante a noite, pode ser arriscado parar num local ermo para deixar passar um "peão invisível"... Além disso, tem sido notório o alarme social com o aumento do número de ataques de car-jacking! E há igualmente o perigo de se parar e levar com um condutor distraído (ou outra coisa) em cima... Tudo isto aconselharia, pois, a que os responsáveis tomassem especial cuidado para que os semáforos não estivessem (como estão) a dar ordens (automáticas) de paragem em circunstâncias nas quais o sinaleiro (que substituiram) jamais o faria!

Caso contrário, corremos o risco de começar a encarar o "sinal vermelho" como os italianos: um mero sinal de "informazione" e não de proibição.

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Objectivos de desenvolvimento do milénio

O objectivo 8 propõe uma «Parceria global para o desenvolvimento»


Uma das componentes tem que ver com a renovação das lideranças e a rotatividade dos detentores de cargos públicos. Quando alguns pensam que estas metas se destinam ao 3º mundo, chegados a este ponto percebemos o quanto elas nos dizem respeito a nós, portugueses no séc. XXI. Aqui em Braga, por exemplo, e sem querer formular um juízo sobre a qualidade do exercício do seu cargo, parece-nos que é um mal em si mesmo a permanência do mesmo presidente de câmara desde 1976. Esta situação propicia a cristalização de uma forte rede de apoio mas também de uma teia de interesses que a prazo se constituem num efectivo entrave a um verdadeiro desenvolvimento sustentável. E dá também um sinal de rigidez social e ilusória escassez de nomes alternativos, aliás secundado por tantos outros exemplos por esse país fora neste e noutros tempos (Guimarães, Felgueiras, Oeiras, Região da Madeira, Oliveira Salazar).

Por muito que as lideranças possam num dado tempo ter um papel mobilizador e até providencial, a sua permanência para além do aceitável acaba por secar o dinamismo daquela sociedade, desanimar os promotores de visões e abordagens alternativas (porventura mais ousadas ou simplesmente mais actuais), acaba por, em última instância, irritar aqueles mesmos apoiantes de sempre, renitentes em “enxotar” quem reconhecem ter servido bem na sua altura e que, por respeito, gostariam que se afastasse com dignidade e pelo seu próprio pé. Não perceber este desejo íntimo é, por um lado, um abuso do respeito do povo e, talvez, a melhor forma de acabar por não ocupar na memória histórica e no coração do povo o lugar que, de outra forma, lhe seria de bom grado atribuído. Veja-se o caso inglório da “morte política” do Dr. Mário Soares, penosamente atirado para o 3º lugar nas últimas presidenciais!

E sair de um cargo em que se realizou já o essencial de um projecto, pode ser afinal a oportunidade para capitalizar e partilhar a experiência adquirida noutro domínio. Como exemplo muito próximo, gostaria de deixar o do Prof. Sérgio Machado dos Santos. Depois de vários mandatos à frente da reitoria da Universidade do Minho, deixando a sua marca indelével, amplamente reconhecida, “partiu para outra” e ei-lo a encabeçar o grande desafio da Escola de Ciências da Saúde da U.M. com imaginação e energia. Aí está uma nova visão do curso de medicina, proposta urbi et orbi. Aí está um novo hospital. Aí está um instituto ibérico de investigação em áreas conexas – senão sob sua liderança, certamente com o seu contributo conceptual e estratégico.


Já não vivemos, felizmente, no tempo de escassez de elites com formação e preparação para assumir responsabilidades. Vivemos, isso sim, no tempo do desemprego e emigração forçada de licenciados e grande desmotivação no mundo da educação.

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Educação

Daí que com a última palavra eu vá justamente pôr o dedo nesta ferida, e nas nossas responsabilidades partilhadas pela presente situação e formular um convite ao envolvimento de todos na busca de soluções que terão de ser encontradas e construídas por todos nós, cada um no seu papel: professores, estudantes, pais, outros profissionais presentes na escola (ou no Ministério), políticos.


Na mensagem do Sr. Presidente da República de abertura do livro lançado recentemente pelos “Empresários para a Inclusão Social – EPIS”, que têm em curso um projecto de promoção do sucesso escolar no Vale do Sousa, pode ler-se:

«Exigir à escola e aos professores que sejam o que os pais não querem ou não conseguem ser, é um mau princípio. Educar é uma responsabilidade partilhada, expressa por um compromisso entre os pais, a escola e a comunidade, que não poderá ser quebrado. Quando tal acontece, as consequências dessa falha reflectir-se-ão, por muitos anos, sobre o futuro dessas crianças e desses jovens.

Hoje conhecemos melhor as consequências de uma menor valorização do papel da educação, em particular quando nos defrontamos com problemas sociais cuja existência é fortemente determinada pela fraca importância que durante décadas lhe atribuímos e pelos reduzidos níveis de escolarização de grande parte dos portugueses.»


Para terminar, aqui partilho com os pais que nos ouvem um pequeno TPC que nos pode ajudar a perceber o grau de compromisso com a escola onde os nossos filhos preparam o futuro de todos: deles e nosso! São 5 questões enunciadas em 16 de Fevereiro em Rebordosa por Diogo Simões Pereira, um dos responsáveis do projecto EPIS:

  • sabe o nome da escola do seu filho(a)?

  • Sabe o nome do director de turma e que disciplina ele dá?

  • Sabe de que disciplina o seu filho(a) mais gosta? E de qual gosta menos?

  • Sabe o nome do melhor amigo ou da melhor amiga do seu filho?

Se não sabe, então se calhar não é má ideia começar a interessar-se pela escola para ter uma voz activa informada e útil na crítica e revalorização da Educação – se se quiser – na revalorização de Portugal. Há um pequeno erro de interpretação do Hino Nacional muito difundido em que vale a pena atentar: não faz sentido pedir aos “Heróis do Mar, nobre povo, nação valente”, como quem pede a outrem “LEVANTAI HOJE DE NOVO (o esplendor de Portugal). Mais útil do que a polémica proposta de Alçada Baptista sobre o tom militarista (canhões, armas, marchar, etc... que podemos ler como metáforas), seria substituir aquele “levantai”, que descompromete o sujeito que fala ou canta, por um “levantemos”. Sim, levantemos hoje de novo o esplendor de Portugal, o esplendor do Minho, o esplendor de Braga, Guimarães, ou de outra terra qualquer. E, para começar, levantemos a Escola.

Até para a semana se Deus quiser!

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