terça-feira, maio 29, 2007

declaração de adesão à greve geral de 30.05.07

Cara D. Glória,

Aceite os meus cumprimentos de sincera estima pessoal.

Perante mim, e não desejando de nenhuma fora beliscar a estima pessoal que lhe tenho, a D. Glória assume neste momento o ingrato papel de representante e "face visível" do poder ao qual estou temporariamente submetido e me exige que declare se amanhã, dia 30, faço ou não faço greve. Nessa medida, entendo dever transmitir-lhe não só a minha decisão mas igualmente um breve resumo dos seus fundamentos. E o que lhe peço é que não se limite a reportar "para cima" o número dos que no dia de amanhã se recusarão a colaborar com um governo que, em meu entender, não dignifica Portugal, ofende gravemente o seu amor à Vida, à Honra e à Verdade, e atrapalha as suas legítimas aspirações de progresso moral e material. Peço-lhe, pois, que reporte também a "declaração de greve" que aqui lhe deixo. Se as pessoas não são meros números, as suas posições certamente não valerão também apenas pelo resultado quantitativo. E, em especial, quando se dispõem ao auto-sacrifício de prescindir do seu "pão de cada dia", merecerão - pelo menos - que se escute as suas razões.

E as minhas razões são as seguintes:

1. Portugal merece um Legislador e um Executivo que promova o desenvolvimento sustentável do país - de todo o país - promova a plena acessibilidade, e uma igualdade de tratamento entre os cidadãos;
2. Os portugueses merecem que as decisões colectivas, em particular dos maiores investimentos públicos, sejam tomadas com base em critérios de racionalidade e transparência;
3. Portugal merece uma Democracia dos cidadãos em vez duma partidocracia que disfarça uma real plutocracia; os cidadãos exigem acesso a uma participação cívica consequente, ao espaço público de debate (serviço público de radio e televisão); reclamam o respeito pelos princípios de boa governança nos orgãos de poder central e local; os jovens, em particular, pedem a antecipação da idade de maioridade civil e uma "machadada" no sistema que os actuais políticos (velhas raposas) montaram para garantir a sua eternização nos lugares-chave, impedindo na prática a renovação das classes dirigentes, a entrada dos jovens na vida activa com a dignidade a que têm direito e arrastando como consequência-limite, a recessão e atraso do país.
4. Os portugueses querem um governo que promova as condições para a criação de emprego em Portugal;
5. Os portugueses exigem Justiça do seu Poder Judicial; merecem respeito pela sua Liberdade de Consciência, garantias da liberdade de expressão e de pensamento;
6. Os portugueses merecem ter acesso a cuidados básicos de saúde, onde quer que decidam viver;
7. As famílias portuguesas merecem a protecção do Estado, merecem ver reconhecido o seu papel de garantes da continuidade e renovação da sociedade e cultura portuguesas;
8. Os empresários portugueses, sustentáculos da economia, do emprego que resta e única esperança para o emprego a criar, merecem um Estado-parceiro e não um Estado "salteador de estrada", mais preocupado em lhes "sacar o dízimo" e facilitar a vida aos sectores "amigos do partido" do que em criar condições gerais de sanidade e transparência dos mercados e verdadeira Justiça Fiscal.
9. Os mais fracos, os mais pobres, os infortunados da mais diversa ordem merecem uma política de inclusão respeitadora da sua dignidade individual e colectiva, que promova a reabilitação, requalificação e a prioridade à reintegração numa actividade, em claro detrimento da trágica política herdada do séc. XX de inactividade subsidiada.
10. Portugal merece um primeiro-ministro que fale Verdade sobre si e sobre as suas políticas;

E por considerar que as políticas seguidas por este Governo - e por outros no passado - não concorrem, muito pelo contrário, para a realização destas legítimas aspirações dos portugueses, entendi em consciência ser meu dever de cidadão que amanhã, dia 30 de Maio de 2007, a minha posição deverá ser entre os que fazem greve.

Guimarães, 29 de Maio do 2007 (email 15h26)
Luís Filipe Botelho Ribeiro, professor auxiliar

(Escola de Engenharia da Universidade do Minho)

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(email 15h30)

Acrescento apenas que a minha declaração de há minutos vale para todo o dia de amanhã, pedindo desde já que seja contabilizada quer na parte da manhã quer da tarde - e com a devida e correspondente penalização salarial.

Melhores cumprimentos,
Luís Botelho Ribeiro

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