Os leitores que nos desculpem e compreendam a nossa falta de contributos para a discussão sobre a localização do novo aeroporto de Lisboa que o Governo acaba de decidir que ficará em Alcochete. Se não gostamos de falar sobre o que não conhecemos, ainda menos gostamos de opinar - que opinar leva sempre alguma força a um ou outro dos lados da contenda... E na verdade, nós não sabemos qual das opções seria a melhor (Ota, Alcochete, Portela + 1) pela simples razão de que... não sabemos o que é um aeroporto.
(foto sxc)
Como poderíamos então dar um contributo válido e sério sobre o melhor local para colocar uma tal coisa ou até se tal coisa é realmente necessária se... desconhecemos o que essa coisa seja.
Mesmo assim, andámos preocupados com o tema bastante tempo. Preocupou-nos ler o texto de Miguel Sousa Tavares sobre o eventual interesse imobiliário dos Soares na opção Ota... Preocupou-nos o tempo de viagem demonstrado pela Dr.ª Maria José Nogueira Pinto, durante a sua campanha para as autárquicas. Preocupou-nos sobremaneira um conjunto de informações recolhidas durante um debate público na Associação Comercial do Porto, ainda em 2006. Não ficámos tranquilos nem sequer depois dos debates "prós & contras" sobre isto.
E a razão é muito simples: um aeroporto na OTA "são" 5.191 milhões de euros, como prevê o LNEC ou 3200, como afirmava a CIP em Outubro? Um aeroporto em Alcochete "são" os 4926 milhões que prevê o LNEC ou os 2000 da CIP? Será que se está realmente a falar do mesmo aeroporto quando os "números redondos" que andavam no ar eram seis mil milhões para a Ota e três mil e tal para Alcochete? Como compreender que a diferença relativa do investimento fosse de 60% no estudo da CIP e caísse para 5,38% no estudo do LNEC? Será tudo explicável pelo impacto das acessibilidades? Parece-nos que falta informação no debate público - e seria bom que o estudo do LNEC e também o da CIP fossem rapidamente disponibilizados on-line. Talvez até tenham sido... nesse caso ignoramos o link.
Mas se o foram e se os parâmetros considerados (para além dos 7 parâmetros críticos referidos pelo LNEC) tiverem sido mais ou menos os mesmos que o Prof. Luís Leite Pinto do I.S.T. apresenta no seu mini-estudo publicado em Outubro, há pelo menos um critério que gostaríamos de ter visto considerado e não vimos..."jamais" (leia-se jamais em francês).
É o mesmo critério que nunca surge na discussão pública quando se decide construir 10 estádios de futebol, uma nova cidade ribeirinha para a Expo 98, uma nova ponte sobre o Tejo, uma nova rede de metro... ou um novo aeroporto: quanto do investimento de maior índice tecnológico (inovação, I&D) se prevê que recorra à indústria nacional? Esse era certamente um dos parâmetros mais relevantes para a decisão política, especialmente num governo que se apresenta com a grande bandeira do "plano tecnológico".
Levantamos esta questão com o lastro de nada mais nada menos do que 10 anos a produzir soluções tecnológicas para os sucessivos governos PS/PSD assobiarem para o lado, preferindo soluções mais dispendiosas e/ou made in estrangeiro - como se supostamente os portugueses não tivessem queda para as matemáticas e os nossos "engenheiros" melhor fora que se dedicassem todos à.. política.
Em suma: o governo ota, digo, opta por Alcochete? Muito bem. Então, tirando o betão, as movimentações de terras, as acessibilidades, mais betão... quanto do investimento resta ainda para sistemas de comunicação, sistemas de segurança electrónica, video-vigilância, sistemas de controlo aéreo Radar e Lidar, sistemas de informação para as operações de logística e passageiros, sistemas de energia, instrumentação diversa, painéis de informação electrónica, redes de dados... made in Europe's West Coast? Ou conformamo-nos com ver-nos a nós próprios como empregados de mesa, jogadores da bola e vigilantes balneares?... Técnicos: só mesmo de construção civil e sob ordens... em castelhano?!!!
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